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DIREÇÃO E LIDERANÇA NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS: O PAPEL DO EMPREENDEDOR-ADMINISTRADOR

DIREÇÃO E LIDERANÇA NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS: O PAPEL DO EMPREENDEDOR-ADMINISTRADOR

Artigo apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Educação para a Florida University USA, Estados Unidos, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Educação com Ênfase em Administração de Empresas.

DOI 10.5281/zenodo.17643530 Orientador (a): Prof. Dr. Dionel da Costa Junior



MANAUS

AGOSTO 2025

SUMÁRIO

RESUMO………………………………………………………….…………4

INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………… 5

2. REFERENCIAL TEÓRICO ……………………………………………………………. 6

2.1 Micro e Pequenas Empresas (EPPs): Panorama Atual ………………………. 6

2.2 O Processo Administrativo e a Função de Direção ……………………………. 7

2.3 Liderança no Contexto das EPPs …………………………………………………….. 8

2.4 O Empreendedor como Administrador-Líder ……………………………………. 9

2.5 Liderança Empreendedora: Uma Abordagem Estratégica para as EPPs…10

2.6. Cultura Organizacional e Liderança: Alinhamento Estratégico nas EPPs.11

3. ANÁLISE CRÍTICA E REFLEXÕES TEÓRICAS …………………………….. 11

3.1. A Liderança Adaptativa e a Inteligência Emocional como Ferramentas

para EPPs………………………………………………………………….….12

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………… 13

REFERÊNCIAS ………………………………………………………………………………… 14

RESUMO

As Micro e Pequenas Empresas (EPPs) são a base da economia brasileira, mas enfrentam grandes desafios na gestão do dia a dia. Neste artigo, refletimos sobre como o empreendedor, que muitas vezes também é o administrador da empresa, precisa desenvolver habilidades de direção e liderança para garantir o sucesso do negócio. Discutimos como a falta de preparo em gestão, a centralização de decisões e as dificuldades em liderar equipes impactam diretamente no crescimento dessas empresas. A pesquisa destaca estilos de liderança mais adequados à realidade das EPPs, como a liderança situacional, transformacional e ágil, além de abordar a importância da inteligência emocional e da cultura organizacional como fatores decisivos para criar equipes engajadas e um ambiente de trabalho saudável.

Palavras-chave: Micro e Pequenas Empresas, Direção, Liderança, Empreendedor, Administrador, Cultura Organizacional.

ABSTRACT

Micro and Small Enterprises (MSEs) are the backbone of Brazil’s economy, but managing them comes with significant challenges. This article reflects on how entrepreneurs, who often take on multiple roles within their businesses, need to develop leadership and management skills to ensure sustainable growth. We discuss how lack of managerial training, decision-making centralization, and leadership difficulties can affect business success. The study highlights leadership styles that best fit the MSE environment, such as situational, transformational, and agile leadership, and emphasizes how emotional intelligence and a strong organizational culture are key to building motivated teams and a healthy work environment.

Keywords: Micro and Small Enterprises, Management, Leadership, Entrepreneur, Administrator, Organizational Culture.

RESUMEN

Las Micro y Pequeñas Empresas (MYPEs) son la columna vertebral de la economía brasileña, pero gestionar estos negocios trae desafíos importantes. En este artículo, reflexionamos sobre cómo el emprendedor, que muchas veces acumula el rol de administrador, necesita desarrollar habilidades de dirección y liderazgo para lograr el crecimiento de su empresa. Hablamos sobre cómo la falta de formación en gestión, la centralización de decisiones y las dificultades en liderar equipos afectan el desempeño de las MYPEs. El estudio destaca estilos de liderazgo que se ajustan mejor a este contexto, como el liderazgo situacional, transformacional y ágil, y muestra cómo la inteligencia emocional y una cultura organizacional sólida son claves para construir equipos comprometidos y un ambiente de trabajo saludable.

Palabras clave: Micro y Pequeñas Empresas, Dirección, Liderazgo, Emprendedor, Administrateur, Cultura Organizacional.

INTRODUÇÃO

As Micro e Pequenas Empresas (MPEs) representam à espinha dorsal da economia brasileira, respondendo por uma parcela significativa da geração de empregos, rendas e da movimentação econômica no país. Dados do Sebrae (2024) indicam que as MPEs são responsáveis por mais de 70% dos postos de trabalho formais, além de serem protagonistas em processos de inovação e atendimento de nichos de mercado. Entretanto, apesar de sua importância, essas organizações enfrentam desafios relacionados à gestão, especialmente no que tange à função de direção e liderança.

A direção, como uma das etapas do processo administrativo clássico (planejar, organizar, dirigir e controlar – PODC), é responsável por guiar as ações da organização em direção aos seus objetivos, coordenando pessoas e recursos de maneira eficiente e eficaz. Em empresas de pequeno porte, o papel do dirigente é ainda mais desafiador, pois na maioria das vezes o empreendedor assume múltiplas funções dentro da estrutura organizacional, acumulando responsabilidades operacionais e estratégicas.

Nesse contexto, a liderança exerce um papel crucial. A capacidade do empreendedor-administrador de motivar, orientar e desenvolver sua equipe, influencia diretamente o desempenho organizacional e a capacidade da empresa de se adaptar à ambientes de alta competitividade. No entanto, muitos gestores de EPPs carecem de formação gerencial e de competências em liderança, o que pode comprometer à efetividade do processo de direção.

Diante desse cenário, o referido artigo tem como objetivo geral analisar o papel do empreendedor-administrador na função de direção e liderança nas micro e pequenas empresas, destacando os principais desafios e competências necessárias para uma gestão eficiente. Como objetivos específicos, busca-se:

  • Compreender a importância da função da direção no processo administrativo das EPPs;
  • Identificar os estilos de liderança mais adequados para o desenvolvimento das pequenas empresas;
  • Discutir as competências essenciais para que o empreendedor atue como um líder eficaz;
  • Refletir sobre as principais barreiras enfrentadas pelos gestores de EPPs no que se refere a prática da liderança.

A metodologia adotada consiste em uma pesquisa bibliográfica e exploratória, com análise de artigos acadêmicos, livros e relatórios institucionais publicados a partir de 2020, com foco na inter-relação entre liderança, direção e gestão de pequenas empresas.

Este estudo busca contribuir para o aprimoramento das práticas de gestão nas EPPs, oferecendo uma reflexão teórica sobre á importância do papel do gestor enquanto líder e agente de transformação organizacional.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Micro e Pequenas Empresas (EPPs): Panorama Atual

As Micro e Pequenas Empresas (MPEs), conforme definidas pelo Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei Complementar n. º 123/2006), são organizações que possuem faturamento anual bruto de até R$ 360 mil (microempresas) e até R$ 4,8 milhões (empresas de pequeno porte). Essas empresas desempenham um papel estratégico na economia nacional, não apenas pela geração de empregos, mas também pela sua capacidade de dinamizar à economia local, fomentar à inovação e suprir demandas específicas de mercado.

Segundo dados do SEBRAE (2024), as MPEs representam 99% das empresas brasileiras, sendo responsáveis por aproximadamente 72% dos empregos formais no país em setores como o comércio, construção civil e prestação de serviço. Apesar de sua relevância, essas organizações enfrentam inúmeros desafios, como: à gestão ineficiente de seus recursos, o acesso a crédito, à inovação tecnológica e à capacitação de seus gestores. Um dos aspectos mais críticos é a carência de práticas administrativas estruturadas, especialmente no que se refere ao processo de direção e liderança (SEBRAE, 2024).

     As EPPs possuem uma estrutura organizacional reduzida e flexível, o que lhes permite uma maior agilidade na tomada de decisões. Contudo, essa característica também resulta em uma centralização excessiva das atividades gerenciais na figura do proprietário, que frequentemente acumula funções operacionais, administrativas e estratégicas (LIMA; SANTOS; OLIVEIRA, 2022).

A profissionalização da gestão e o desenvolvimento de competências de liderança no empreendedor-administrador são, portanto, elementos determinantes para a sustentabilidade e o crescimento dessas empresas. Conforme apontam Silva e Almeida (2023), a capacidade de liderar equipes, gerir conflitos e manter a motivação dos colaboradores é um diferencial competitivo e essencial para as EPPs que buscam se destacar em mercados altamente competitivos e instáveis.

2.2. O Processo Administrativo e a Função de Direção

O processo administrativo, conforme descrito por Chiavenato (2020), é um ciclo contínuo composto pelas funções de planejar, organizar, dirigir e controlar (PODC), que visa assegurar o alcance dos objetivos organizacionais por meio da coordenação eficiente dos recursos disponíveis. No contexto das EPPs, à aplicação desse processo é fundamental, embora precise ser adaptada à realidade dessas empresas, que lidam com restrições de recursos e uma maior proximidade entre gestão e operação.

A função de direção, dentro desse processo, refere-se à condução das atividades organizacionais por meio da influência sobre o comportamento dos colaboradores, buscando alinhar as ações da equipe com os objetivos estratégicos da empresa. Trata-se de uma função essencialmente humana, que envolve comunicação, motivação, liderança e desenvolvimento de pessoas (MAXIMIANO, 2021).

Para Lima e Campos (2022), a direção nas EPPs é caracterizada por uma gestão direta e informal, onde o empreendedor exerce um papel central na coordenação das atividades e no relacionamento interpessoal com os colaboradores. Essa proximidade, embora traga vantagens como agilidade e flexibilidade, também apresenta desafios, como a dificuldade em delegar tarefas e a tendência à centralização das decisões.

    O empreendedor-administrador precisa desenvolver habilidades de liderança que transcendem o comando e controle, adotando práticas que incentivem a participação e o engajamento dos colaboradores. Segundo Souza e Ferreira (2023), a liderança eficaz em pequenas empresas está diretamente relacionada à capacidade do gestor de inspirar confiança, comunicar de forma clara os objetivos organizacionais e criar um ambiente de trabalho colaborativo e motivador.

    Além disso, autores como Lacombe (2021) destacam que a função de direção nas EPPs não se limita à supervisão das atividades operacionais, mas também à orientação estratégica da empresa, a gestão da cultura organizacional e a promoção de um clima organizacional favorável à inovação e ao desempenho.

2.3. Liderança no Contexto das EPPs

    A liderança é um fator crítico para o sucesso das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), especialmente pela proximidade entre o empreendedor e sua equipe, característica típica dessas organizações. Diferente das grandes empresas, onde se percebe uma clara divisão entre níveis hierárquicos e funções gerenciais, nas EPPs o gestor frequentemente exerce múltiplos papéis, o que exige uma atuação de liderança direta e multifacetada (LIMA; CAMPOS, 2022).

No contexto das EPPs, a liderança deve ser compreendida como um processo de influência que visa alinhar os objetivos individuais dos colaboradores aos objetivos organizacionais, promovendo o engajamento, a motivação e a coesão da equipe (SOUZA; FERREIRA, 2023).              A literatura recentemente aponta que os estilos de liderança mais eficazes em ambientes de pequenas empresas são aqueles que promovem a flexibilidade, à adaptabilidade e a participação dos colaboradores nos processos decisórios.

Estilos de Liderança Adequados às EPPs:

  • Liderança Situacional: De acordo com Hersey e Blanchard (2021), a liderança situacional é baseada na adaptação do estilo de liderança conforme o nível de maturidade e competência da equipe. Esse modelo é altamente eficaz em EPPs, onde o gestor precisa alternar entre estilos diretivos e delegativos, conforme o contexto e os desafios enfrentados.
  • Liderança Transformacional: Conforme Bass e Riggio (2020), a liderança transformacional é caracterizada pela capacidade do líder de inspirar e motivar sua equipe em direção à inovação e ao desenvolvimento contínuo. Em EPPs, essa abordagem é fundamental para criar uma cultura organizacional alinhada com valores de proatividade e melhoria constante.
  • Liderança Ágil: Segundo Silva e Almeida (2023), a liderança ágil é uma abordagem emergente que valoriza a adaptabilidade e a colaboração em ambientes dinâmicos. Nas EPPs, onde as mudanças de mercado exigem respostas rápidas, o líder ágil assume um papel de facilitador, promovendo à autonomia da equipe e a rápida tomada de decisão.

CHIAVENATO (2022, p. 3) afirma:

        Em Administração não existem duas situações exatamente iguais nem soluções iguais. Tudo muda. Cada situação, cada organização, cada empresa, cada empreendimento, cada unidade organizacional, cada operação ou atividades é sempre diferente e requer uma abordagem específica e apropriada.

Dessa forma, o empreendedor-líder precisa desenvolver uma postura flexível, capaz de alternar estilos de liderança conforme as situações e necessidades da empresa, sem perder de vista a visão estratégica e a humanização das relações de trabalho (MARTINS; COSTA, 2022).

2.4. O Empreendedor como Administrador-Líder

O conceito de empreendedor-administrador-líder refere-se à figura do gestor de pequenas empresas que, além de ser o proprietário do negócio, exerce funções de liderança e administração de forma integrada. Essa tríplice função exige um conjunto de competências específicas que vão além do conhecimento técnico ou da simples gestão de processos operacionais (FERREIRA; LIMA, 2023).

Competências Essenciais do Empreendedor-Líder:

  • Comunicação Eficaz: A habilidade de comunicar de forma clara as metas, objetivos, valores e expectativas da empresa é essencial para garantir o alinhamento da equipe e à execução eficiente das tarefas.
  • Delegação e Gestão de Pessoas: O empreendedor precisa aprender a delegar responsabilidades, confiando na capacidade de sua equipe, o que permite a descentralização de atividades e o foco em decisões estratégicas.
  • Motivação e Desenvolvimento de Equipes: A criação de um ambiente de trabalho positivo, que incentive o crescimento profissional e o reconhecimento das conquistas, é um dos principais fatores de retenção de talentos em EPPs.
  • Visão Estratégica: Apesar das limitações de recursos, o empreendedor deve ser capaz de estabelecer metas claras, de curto e longo prazos, monitorando constantemente o ambiente externo para identificar oportunidades e ameaças. Podendo utilizar para isso a ferramenta SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças). A análise da mesma ajuda à entender o cenário interno e externo de uma organização, permitindo à identificação de fatores que podem influenciar o sucesso ou fracasso de um projeto ou negócio. 

Conforme apontam Almeida e Silva (2024), o desenvolvimento dessas competências não é algo específico, mas sim um processo contínuo de aprendizado e aperfeiçoamento, que pode ser impulsionado por programas de capacitação, coaching empresarial e participação em redes de apoio ao empreendedor.

Além disso, a literatura destaca ainda à importância de o empreendedor reconhecer suas limitações e buscar desenvolver uma postura de liderança consciente e reflexiva, capaz de equilibrar a visão operacional com a visão estratégica do negócio (MOURA; REIS, 2022).

2.5. Liderança Empreendedora: Uma Abordagem Estratégica para as EPPs

A liderança empreendedora se configura como um conceito emergente no campo da administração, caracterizado pela capacidade do líder de identificar oportunidades, assumir riscos calculados e promover a inovação, mesmo em contextos de recursos limitados. Dornelas (2022) destaca que o empreendedor-líder é aquele que, além de gerir o cotidiano da empresa, assume uma postura proativa em busca de novas soluções e estratégias que potencializem o crescimento do negócio.

Nas EPPs, a liderança empreendedora é ainda mais crucial, visto que essas organizações operam em ambientes de alta volatilidade e necessitam de uma gestão flexível e orientada para resultados. Segundo Lima e Silva (2023), o empreendedor-líder precisa combinar habilidades de gestão tradicional com uma mentalidade inovadora, sendo capaz de mobilizar sua equipe em torno de projetos de crescimento, mesmo diante de restrições de capital e infraestrutura.

Essa abordagem exige do gestor competências como: visão de longo prazo, resiliência, criatividade e capacidade de networking. Além disso, conforme Pereira e Souza (2022), a liderança empreendedora nas EPPs deve ser capaz de estimular uma cultura organizacional voltada para a experimentação e a aprendizagem contínua, criando um ambiente propício à geração de ideias e à adaptação constante.

2.6. Cultura Organizacional e Liderança: Alinhamento Estratégico nas EPPs

A cultura organizacional, entendida como o conjunto de valores, crenças e práticas que orientam o comportamento dos membros de uma organização, exerce uma influência direta sobre os estilos de liderança e as dinâmicas de gestão (SCHEIN, 2021). Nas EPPs, a cultura organizacional tende a ser fortemente moldada pela figura do empreendedor, cuja visão e comportamento são replicados em todos os níveis da empresa.

Segundo Costa e Almeida (2023), a liderança eficaz em pequenas empresas deve atuar como um elemento de sustentação e desenvolvimento da cultura organizacional, promovendo a coerência entre os valores empresariais e as práticas de gestão. Isso implica em uma atuação consciente do líder, que deve buscar alinhar suas decisões e atitudes com os princípios que deseja ver disseminados em sua equipe.

Além disso, Moura e Reis (2022) destacam que uma cultura organizacional que seja forte e positiva, contribui para a retenção de talentos, a melhoria do clima organizacional e o aumento da produtividade, fatores considerados essenciais para a sustentabilidade das EPPs. Com isso, o empreendedor-administrador deve adotar práticas de liderança que reforcem os valores organizacionais, estimulem a colaboração e valorizem o capital humano.

3. ANÁLISE CRÍTICA E REFLEXÕES TEÓRICAS

A função de direção, quando exercida de maneira eficaz, é um dos fatores determinantes para o sucesso das Micro e Pequenas Empresas (MPEs). A proximidade entre o empreendedor e o operacional, setor marcante das EPPs, permite uma gestão mais ágil e personalizada. Entretanto, essa mesma proximidade pode se transformar em um obstáculo quando o empreendedor não desenvolve competências de liderança adequadas, resultando em centralização excessiva e dificuldades de delegação (CHIAVENATO, 2020).

Chiavenato (2020) destaca que a função de direção vai além da simples supervisão, sendo uma atividade de influência e desenvolvimento humano. No contexto das pequenas empresas, o gestor precisa adotar um estilo de liderança participativo, onde a comunicação aberta e o estímulo à autonomia dos colaboradores são fundamentais para o crescimento da organização.

Drucker (2021) reforça essa visão ao afirmar que o principal papel do gestor é “fazer as coisas certas acontecerem”, ou seja, direcionar as energias organizacionais de maneira estratégica, mesmo em ambientes com recursos limitados. Para Drucker, o empreendedor de pequenas empresas precisa ser, antes de tudo, um líder que transforma ideias em ações práticas, conectando a visão do negócio com a capacidade de sua equipe.

No entanto, a realidade do dia a dia nas EPPs impõe uma série de barreiras à prática da liderança eficiente. Entre os principais desafios, destacam-se:

  • Acúmulo de funções pelo empreendedor: Muitos gestores de EPPs estão sobrecarregados com atividades operacionais, o que limita seu foco em questões estratégicas e no desenvolvimento da equipe.
  • Dificuldade em delegar: A centralização excessiva das decisões é um traço comum nas pequenas empresas, fruto de uma cultura de desconfiança ou da ausência de processos claros.
  • Falta de capacitação em gestão e liderança: Conforme aponta Silva e Almeida (2023), grande parte dos empreendedores brasileiros inicia seus negócios sem formação específica em administração, o que dificulta à aplicação de práticas modernas de liderança.

Apesar dessas dificuldades, as EPPs possuem um enorme potencial de transformação quando o gestor assume o papel de líder consciente. A criação de uma cultura organizacional baseada em valores compartilhados, à implementação de práticas simples de gestão de pessoas e o investimento contínuo no desenvolvimento de competências gerenciais, são fatores que podem alavancar os resultados dessas empresas (MOURA; REIS, 2022).

Adotar estilos de liderança flexíveis, como a liderança situacional e a liderança ágil, permite ao empreendedor adaptar sua atuação às necessidades específicas da equipe e do mercado, promovendo um ambiente de trabalho mais dinâmico e colaborativo. Como destaca Lacombe (2021), “à eficácia do líder está em sua capacidade de ajustar sua abordagem conforme a maturidade e as circunstâncias do grupo que lidera”.

3.1. A Liderança Adaptativa e a Inteligência Emocional como Ferramentas para EPPs

A liderança adaptativa é um conceito amplamente discutido na literatura recente, especialmente em ambientes empresariais marcados pela complexidade e pela constante mudança. Segundo Heifetz, Grashow e Linsky (2020), o líder adaptativo é aquele que reconhece a necessidade de mudança, mobiliza sua equipe para o enfrentamento de desafios e ajusta suas práticas conforme as demandas do ambiente.

Nas EPPs, a liderança adaptativa se apresenta como uma abordagem eficaz para lidar com incertezas e restrições de recursos. Conforme Batista e Costa (2023), o empreendedor-líder que adota uma postura adaptativa consegue identificar rapidamente as mudanças no mercado, ajustar seus processos internos e engajar a equipe em soluções inovadoras.

Paralelamente, a inteligência emocional tem se consolidado como uma competência essencial para os gestores de pequenas empresas. Goleman (2021) destaca que a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, bem como as emoções dos outros, é fundamental para a construção de relações interpessoais saudáveis e produtivas.

Em um ambiente organizacional como o das EPPs, onde as interações são intensas e constantes, a inteligência emocional do gestor influencia diretamente o clima organizacional, a resolução de conflitos e a motivação da equipe. Assim, a combinação entre liderança adaptativa e inteligência emocional se configura como uma estratégia poderosa para a sustentabilidade e o crescimento das pequenas empresas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo buscou analisar o papel do empreendedor-administrador na função de direção e liderança nas Micro e Pequenas Empresas (EPPs), destacando a importância dessa função para a sustentabilidade e o crescimento dessas organizações. Verificou-se ainda que, embora a proximidade do gestor com à operação traga agilidade e flexibilidade, a falta de capacitação em liderança e a tendência à centralização podem comprometer o desempenho organizacional.

A literatura evidencia que a liderança eficaz nas EPPs exige um conjunto de competências específicas, como comunicação, delegação, motivação e visão estratégica, que devem ser desenvolvidas de forma contínua pelo empreendedor. Modelos de liderança adaptativos como: a liderança situacional, transformacional e ágil, mostraram-se os mais adequados ao contexto das pequenas empresas.

Como recomendação, ressalta-se à importância de programas de capacitação e apoio ao empreendedor, voltados ao desenvolvimento de habilidades de liderança e gestão de pessoas. Além disso, é fundamental que o empreendedor reconheça a necessidade de descentralizar atividades e criar um ambiente organizacional que favoreça a autonomia e o crescimento da equipe.

Por fim, sugere-se que pesquisas futuras aprofundem a análise sobre o impacto da liderança nas EPPs a partir de estudos empíricos, de modo a evidenciar práticas bem-sucedidas e construir modelos de gestão adaptados à realidade brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SOUZA, L. F.; FERREIRA, G. T. Gestão de Pessoas em Empresas de Pequeno Porte: O Papel da Liderança Participativa. Revista Gestão & Tecnologia, v. 23, n. 1, 2023.

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